Faz tempo que não venho aqui compartilhar quaisquer
mundanidades que me afetam. Afinal, esse blog é, grosso modo, isso: um acervo
de coisas reputadas inúteis por todos que leem (quem? Existem?), menos por mim,
que preciso me desfazer de alguns pensamentos – como um lixeiro que, já ao
final de seu turno, na alta madrugada, parece desesperado para despejar o
conteúdo das latas laranjas da COMLURB dentro do caminhão de lixo. 
Por óbvio, se aqui estou, é porque me sinto como o
lixeiro descrito acima: desesperado para entornar, neste espaço, alguma coisa
que guardo dentro de mim. O problema, todavia, é que não sei especificar
exatamente o que: a lata está cheia, mas são decerto coisas inidentificáveis, de
modo que corro o risco de transformar esses parágrafos numa barafunda desconexa
que teria por consequência a redução do meu já escasso número de leitores.
Vejam, meus quatro amigos que insistem em vir aqui, como eu os valorizo. 
De qualquer forma, como o blog “Um pouco de nada” é meu
mesmo e de mais ninguém, assumirei os riscos e seguirei escrevendo (como vocês podem
ver, tudo que eu falo, eu faço mesmo... e continuo fazendo...), na tentativa de
fazer jus à utilidade disso aqui. Já escrevi, desde o início do blog, sobre algumas
coisas: o amor pelos meus pais; sobre as palavras e como elas nos marcam; sobre
meu pai especificamente...; e já fui para um cronismo mais atemático, como
quando descrevi o causo do Gavião Bombeiro, que me salvou lá no escritório. Por
óbvio, não esgotei meu infindável(!) arcabouço de ideias, motivo pelo qual sigo
confiante nesta empreitada literária. Vou conseguir – repito, mudo, enquanto
escrevo – vou conseguir! – e escrevo o que repito. Algo vai sair disso aqui.
Na verdade, já começo a desistir: não vou conseguir. 
Rascunhei um parágrafo falando sobre o “Poema de
Sete Faces”, do Carlos Drummond de Andrade, e não gostei – tinha uma rima,
não uma solução e tudo mais que dizia soava como repetição. Depois, esbocei
falar um pouco sobre “A
Casa do Oscar”, texto do Chico Buarque em homenagem ao Oscar Niemeyer que
li diversas vezes essa semana, e nada. Apenas uma reprise sem sal do que o
próprio Chico já nos diz no texto, nas entrelinhas. Reflito, afinal, a respeito
da minha doentia prepotência em querer complementar Chico Buarque, Carlos
Drummond de Andrade ou quaisquer outros autores –até mesmo os de autoajuda. Afinal,
eles têm as palavras; eu tenho um blog. 
Blog esse que, hoje, não está servindo mesmo é para
nada: o lixeiro não veio, e a lata laranja, comprida, lotada, quase a explodir não
se esvazia. Me resta fazer, então, o que faço de melhor: ler. Decido olhar o
colunismo da Folha e de O Globo, e gosto do que encontro. No Globo, Magnoli faz
boa retrospectiva do dilema Chinês com a guerra na Rússia, enquanto Gabeira despeja
sua admirável sensibilidade social ao falar das pessoas com TEA. Na Folha, vejo
algumas coisas boas, mas gosto é mesmo de ler o Tostão: parece que suas
opiniões sobre futebol são imunes ao presente – tudo pode ser analisado de
forma relativa, como uma fase, enquanto ele, Tostão, está alheio aos impactos
contextuais, apenas observando-os e fazendo as devidas anotações. 
Após, ameaço me aventurar no livro que estou lendo – “O Som e a Fúria”, do Faulkner – um presente de aniversário, mas que se encontra parado, escondido, envergonhado com o marcador nos idos das páginas sessenta embaixo da minha cama, pois eu não consigo dar à obra a merecida atenção mediante a enxurrada de leituras jurídicas que me pressionam. Penso quanta coisa ainda tenho para ler nessa vida, e transmito isso inconscientemente ao Faulkner, que me perdoa e se diz ansioso para me conhecer. Só pede, com cuidado, que eu o tire da poeira e o guarde num lugar melhor. Obedeço dando-lhe destaque na minha estante para que eu e ele não nos esqueçamos do nosso encontro marcado no futuro breve.
Leituras feitas, leituras postergadas, leituras imaginadas.
Sinto um alívio: que bom que eu só tenho um blog. É o espaço adequado para o leitor
que sou.
Se tivesse de escrever para viver, viveria apenas ocasionalmente.
Na maioria dos dias, estaria morto. 
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